Professor e mais 10 alunos em sala de aula podem gerar 43 contágios por Covid-19, diz estudo da UFCG — Foto: Antônio Vieira/TV Cabo Branco
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Como será o processo de entrada e saída das escolas? Como será no parquinho? E a hora do lanche, quem ficará responsável por supervisionar a higienização das mãos e retirada das máscaras de cada criança antes que ela consuma o lanche, sem correr o risco de uma contaminação?. Essas se tornaram dúvidas comuns para pais ou responsáveis de crianças e adolescentes em idade escolar. Pensando nisso, dois professores do Centro de Ciências e Tecnologia (CCT) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) desenvolveram um estudo sobre o impacto de um possível retorno das atividades presenciais em escolas da cidade durante a pandemia de Covid-19.

De acordo com a pesquisa feita pelos professores Severino Horácio, da Unidade Acadêmica de Matemática, e Michelli Barros, da Unidade Acadêmica de Estatística, quanto mais contatos uma pessoa infectada mantiver, maior a capacidade de disseminação do novo coronavírus.

Para demonstrar como as chances de contágio são potencializadas, o trabalho foi dividido em três situações hipotéticas, baseadas em número de alunos e professores em sala de aula, que consideram cenários comuns no ambiente escolar.

A pesquisa também leva em conta a quantidade de contatos cruzados, que acontecem a partir dos contatos diretos, que as aglomerações em salas de aulas podem provocar com a Covid-19.

Sala de aula com um professor e 10 alunos

Se uma sala de aula contar com 10 alunos e um professor, com cada um desses alunos morando apenas com os pais e um irmão, e o professor morando com um companheiro e mais dois filhos, qualquer uma dessas pessoas vai ficar exposta a 43 pessoas diferentes. Por isso, existe a possibilidade de 121 contatos cruzados com a Covid-19.

A hipótese supõe que a turma tem um único professor. Conforme a pesquisa, a situação é típica do ensino infantil ou eventualmente do ensino fundamental I.

Além disso, foi considerado que os alunos e o professor não tiveram contato com porteiro, auxiliar de classe, acompanhante terapêutico, auxiliar de serviços gerais, professores de educação física, coordenador pedagógico, psicólogo ou outra pessoa fora da classe ou da residência em que moram.

Sala de aula com um professor e 20 alunos

Já em uma sala com 20 alunos, que moram com os pais e um único irmão, e um professor solteiro e sem filhos, num primeiro dia de aula, cada uma dessas crianças pode ficar exposta a 80 pessoas diferentes, além de proporcionar 330 contatos cruzados com a doença.

Sala de aula com 10 professores e 30 alunos

Uma sala de aula com 30 alunos e 10 professores, em que 15 alunos têm um irmão e os outros 15 são filhos únicos e 5 professores têm dois filhos e 5 só têm um filho, cada pessoa do grupo pode ficar exposta a 139 pessoas diferentes. O número de contatos cruzados pode chegar a 960.

A configuração leva em consideração uma turma do ensino médio, que, por exemplo, possui rotatividade de educadores entre uma aula e outra.

O cenário não considerou que os professores ministraram aulas em outras turmas com o mesmo perfil, nem que estas pessoas tiveram contato com outras pessoas fora de suas classes ou de suas residências, configurações que aumentariam de forma significativa tanto o número de pessoas expostas como o número de contatos cruzados.

Recomendações de distanciamento

O estudo considera uma sala de aula como ambiente de aglomeração. Para atender às recomendações de distanciamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma sala de aulas com 10 alunos e um professor deverá ter no mínimo 18,75 metros quadrados.

Distribuição dos alunos em salas conforme área sugerida pela OMS

Número de alunos em sala Número de professores em sala Área mínima de segurança sugerida pela OMS
10 1 18,75 metros quadrados
20 1 37,5 metros quadrados
30 1 56,25 metros quadrados
40 1 75 metros quadrados

Riscos

Com base nos cálculos, os professores concluíram que um possível retorno das aulas provocará um aumento do contato entre as pessoas da cidade, o que pode aumentar o contágio entre elas e deixará as crianças vulneráveis a uma infecção pelo novo coronavírus.

Os pesquisadores chamam atenção para o ensino infantil e o ensino fundamental I, por considerarem que as crianças não saberão manusear os equipamentos de proteção individual como máscaras e álcool em gel. Eles apontam também que é muito difícil para elas compreenderem a necessidade do distanciamento social.

A conclusão do estudo é de que uma criança infectada pode contagiar colegas de classe, professores, pais, irmãos, avós e possivelmente colegas de condomínios ao usarem elevadores e brinquedos da área de lazer.

Portanto, a menos que exista uma vacina para prevenir a infecção pelo novo coronavírus, ou que a população tenha atingido a imunidade de rebanho, quando uma certa porcentagem da população é contaminada, os professores acreditam que não existem condições seguras para o retorno as atividades escolares nos níveis infantil, fundamental e médio pelos próximos meses.

G1 PB

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