O comandante do Exército, Paulo Sérgio: mais uma continência ao ex-capitão (Imagem: reprodução/Exército)
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O Alto Comando do Exército pressionou o comandante da Força, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, a não atender à convocação do ministro da Defesa Braga Netto para participar da cerimônia de entrega de um convite da Marinha ao presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira.

Para um militar, o não atendimento a convocação de um superior configura ato de indisciplina e, no caso de Paulo Sérgio, a única forma de evitar o cometimento da infração seria pedir demissão do cargo — precisamente o que o Alto Comando queria.

O general Paulo Sérgio, assim como o comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, foram convocados por Braga Netto para ladear o presidente Bolsonaro na rampa do Palácio do Planalto no momento em que ele recebesse o convite formal para assistir a Operação Formosa, o maior exercício militar da Marinha no Planalto Central, prevista para acontecer no próximo dia 16 com a participação do Exército e da Aeronáutica pela primeira vez.

A cerimônia de entrega do convite, marcada para o mesmo dia da votação da PEC do voto impresso na Câmara dos Deputados, foi precedida por um desfile de blindados da Marinha na Esplanada dos Ministérios — no que foi considerado uma “pantomima” e uma instrumentalização da Força Naval pelos generais quatro estrelas que compõem a cúpula da Força Terrestre.

O Alto Comando do Exército se reúne diariamente nessa época do ano para discutir, entre outras coisas, questões orçamentárias da instituição. Na reunião de ontem, porém, o desfile da Marinha —e a participação do comandante Exército na cerimônia prevista para encerrá-lo — foram os assuntos dominantes no encontro.

Com maior ou menor eloquência, os generais expressaram seu desagrado à presença do comandante do Exército num evento que, para eles, escancarava a tentativa presidencial de usar as Forças Armadas em seu benefício político — nesse caso, o desejo de intimidar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Alguns se disseram “envergonhados” e “indignados”.

Paulo Sérgio, como presidente do Alto Comando, estava presente à reunião e ouviu todas as críticas. Nenhum dos presentes citou a palavra “demissão” porque, como afirma um general com interlocução com o Alto Comando, “cardeais não mandam o papa renunciar”. Ao final da reunião, estava claro que o papa não estava disposto a renunciar.

Tanto Paulo Sérgio como o comandante da Aeronáutica e da Marinha perfilaram-se junto ao ministro Braga Netto na cerimônia de hoje de manhã na rampa do Palácio do Planalto.

O general Paulo Sérgio assumiu o comando do Exército em março, depois da crise militar deflagrada pela demissão sumária do ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva e que culminou na saída em bloco dos três comandantes das Forças.

Dois meses depois, ele foi confrontado com a decisão de punir ou não o general da ativa Eduardo Pazuello pela quebra da regra militar que veda a participação de fardados em atos políticos (em maio, no Rio, o ex-ministro da Saúde discursou num caminhão de som ao lado de Bolsonaro numa manifestação em prol do ex-capitão). Paulo Sérgio preferiu atender o pedido de Bolsonaro e não puniu o general.

Na época, integrantes do Alto Comando consideraram que o comandante do Exército havia feito a sua opção diante das únicas alternativas que tinha: preservar o cargo ou perder a autoridade. As chances de recuperá-la ele perdeu agora.

UOL

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