José Airton, de Areia Branca, ganhou primeiro celular da filha — Foto: reprodução
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A jovem Daíse Monteiro, de 22 anos, surpreendeu o pai na última sexta-feira (3) ao dar um presente inesperado a ele, mesmo sem qualquer data festiva próxima. Ao desembrulhar o pacote, sentado em uma rede dentro de casa, na cidade de Areia Branca, litoral do Rio Grande do Norte, José Airton, de 53 anos, chorou. Dentro da caixa, havia um celular: o primeiro que ele vai ter na vida.

O vídeo circulou nas redes sociais desde que foi publicado. A intenção do registro, feito pela própria Daíse, era mostrar o momento à irmã. Mas a cena comoveu a muito mais gente, inclusive a ela, que se abraça e chora junto com o pai.

A situação financeira nunca foi das melhores na casa de José Airton. Analfabeto, ele também não conseguia lidar bem com as funções do celular, como atender um telefonema, o que também justificava ele nunca ter tido um aparelho. Mas recentemente a filha começou a notar que ele começou a mexer no smartphone da mãe, que a própria Daíse deu há cerca de um ano.

“Eu dei um a minha mãe, que também não sabia mexer, e ensinei ela a entrar no Whatsapp… Aí ele começou a mexer no celular dela. Ele a viu entrando no Youtube, então pegava o celular dela, colocava um vídeo ou uma música. Então pensei: por que não dar um a ele também?”, falou Daíse.

Ela conta que assim que percebeu que o pai aprendeu a usar, de forma intuitiva, o celular, ela pensou no presente. Mas aí foi surpreendida pela pandemia, que fez com que ela parasse de trabalhar por conta das medidas de prevenção ao coronavírus. Daíse é micropigmentadora de sobrancelhas e lábios. “Quando pude voltar uns dias ao trabalho, juntei um dinheiro e comprei o celular”, disse.

“Não é o melhor celular, mas pra ele já é muita coisa. Assim, ele pode mexer sozinho, sem precisar pegar o da minha mãe, que precisa do dela. Ele já fez até uma capinha de pano pra guardá-lo”.

Entre as coisas que ele mais assiste no celular, estão vídeos de musculação e músicas do estilo brega. “Ele ama malhar, desde novinho que ele faz exercícios físicos. Então ele fica assistindo vídeos de musculação. E ele também ouve músicas: ele gosta de brega e é fã de Zezo”, contou.

Daíse
Daíse com o pai e a mãe — Foto: cedida

Dificuldades

José Airton tem tido dificuldades para trabalhar atualmente, fato agravado pela pandemia do novo coronavírus. Ele pinta e lava barcos, mas os serviços só aparecem em determinados períodos do ano. Assim, quando não tem serviços, ele usa um pequeno barco, que ganhou de um amigo, para pescar e leva a maioria dos peixes para casa – os demais, ele vende. Dessa forma, atualmente o sustento da casa tem sido através da filha.

Na busca por um emprego, José Airton esbarra, muitas vezes, numa mesma barreira: o analfabetismo. “Ele não teve a oportunidade de estudar, porque ele precisava trabalhar, pra levar as coisas pra dentro de casa. Ele até frequentou a escola quando mais novo, mas as necessidades fizeram ele parar. Eu e minha irmã já tentamos com que ele voltasse, mas ele diz que hoje não tem mais paciência”, explica Daíse.

A situação se agravava em determinados períodos. “Ele ficava louco, porque a gente vivia pulando de casa em casa, não tínhamos condições de ficar pagando aluguel. A gente já morou num quartinho bem pequeno mesmo, com uma rede em cima da outra”, contou Daíse, que já trabalha há alguns anos. “Eu comecei a trabalhar bem nova, fazia faxina, trabalhava em lojinha, supermercado, vendia bijuteria, fazia de tudo”.

Os problemas financeiros amenizaram após a família conseguir uma casa para morar e Daíse deixar o emprego para trabalhar no seu próprio negócio.

“Graças a Deus a gente conseguiu essa casa, eu arrumei um emprego melhor, trabalhei de carteira assinada e falei aos meus chefes do meu sonho. Eles super me apoiaram, eu saí e comecei a fazer sobrancelhas. Tinha meses que eu não fazia uma. Depois comecei a ficar mais conhecida, ganhei um concurso de beleza, o que me permitiu começar a ajudar e depois a sustentar tudo”.

Veja o vídeo:

G1 RN

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